quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Ansiedade de Separação

A psicóloga Adriana Zanonato esclarece dúvidas sobre ansiedade de separação

Foto Priscilla Borges

Por Paula Tweedie

O que é ansiedade de separação?
Ansiedade de Separação é a forma de ansiedade mais comumente manifesta em crianças. Toda criança pode sentir, em alguns momentos, esse tipo de ansiedade, quando esteja vivenciando ou pressentindo a possibilidade de ficar longe de seus pais ou cuidadores principais. Dentro de certos limites pode ser considerado normal que crianças reajam com alguma ansiedade ao afastamento de seus familiares. Mas passamos a falar em um Transtorno de Ansiedade de Separação quando a intensidade e a frequência com que se manifestam esses sintomas passam a dificultar significativamente a vida da criança e da sua família.

Que manifestações caracterizam um Transtorno de Ansiedade de Separação?
Em primeiro lugar, a intensa dificuldade em aceitar separar-se da mãe ou de outros cuidadores importantes – quer estar sempre junto, reage intensamente quando afastada. Quando frequenta a escola, pode passar a não querer mais entrar em aula, bem como evita visitar amigos, frequentar aniversários ou mesmo casa de outros familiares. Reage com grande angústia quando forçada a fazer uma dessas atividades, chorando ou brigando com grande emoção. Pode ter uma crise de ansiedade quando percebe-se longe de suas fontes de segurança. Quando sua mãe ou alguma outra pessoa importante para ela está fora, trabalhando ou viajando, pode tentar controlar a situação telefonando uma infinidade de vezes para saber onde está e falar de sua angústia. Costumam não querer dormir sozinhas, exigindo a presença de alguém sempre ao lado em seu quarto. Algumas crianças sentem tão intensamente a separação que chegam a manifestar sintomas clínicos como febre, vômito, dor de estômago ou cefaléia. Em torno de 4% das crianças podem apresentar esse tipo de transtorno em algum momento da infância. A ansiedade das crianças com esse transtorno pode comprometer seu relacionamento com as outras crianças e/ou seu aprendizado escolar.

Quais são as preocupações mais comuns dessas crianças?
O pensamento dessas crianças está sempre focado em algum tipo de tragédia que possa acontecer com as pessoas importantes de sua vida: acidentes de carro, assaltos e sequestros são os mais comuns. Também costumam ter fortes pesadelos com esses temas envolvendo seus familiares, o que acentua seus medos de dormir à noite. Preocupações com a morte e o morrer são bastante frequentes. Todos os temas têm em comum o fato de que, no caso de acontecer algo de verdade, a criança poderia se sentir sozinha e desamparada no mundo. Algumas vezes são temores bem mais simples, como o medo de ser esquecida na escola, perder-se em algum lugar mais amplo ou ficar doente e não ter alguém para cuidá-la.

Algumas pessoas entendem essas manifestações como “manhas” ou “tentativas de manipulação” da criança, propondo que sejam desconsideradas. O que pensa sobre isso?
Na verdade, essas crianças vivenciam um grande e verdadeiro sofrimento. Sua forma de pensar, sempre muito negativa e catastrófica, leva-as a sentirem intensa angústia, tristeza ou raiva por sentirem-se desatendidas ou incompreendidas. Não devemos de nenhuma maneira desconsiderar o que elas estão sentindo, mas sim ouvi-las com atenção e tratar de ajudá-las com a máxima presteza. A cronificação de um Transtorno de Ansiedade de Separação poderá determinar comprometimento importante no desenvolvimento de uma criança. Quando o apoio afetivo e o cuidado amoroso forem insuficientes para tranquilizar a criança, estaria indicada a procura de atendimento profissional.

Apoio:
*Site www.maesaobra.com.br

domingo, 20 de novembro de 2011

"A psicoterapia está passando por uma crise", diz Nobel

Congresso Brasileiro de Psiquiatria

Laureado com o Nobel de Medicina em 2000, Eric Kandel afirma que é preciso comprovar cientificamente a eficácia da psicoterapia

Natalia Cuminale, do Rio de Janeiro
Eric Kandel Richard, neurocientista e ganhador do Prêmio Nobel 2000 de Medicina 
Eric Kandel Richard, neurocientista e ganhador do Prêmio Nobel 2000 de Medicina (Samuel Kubani/AFP)
"Na maioria dos casos, a psicoterapia não possui comprovação cientifica que mostre em quais circunstâncias ela funciona ou não."

"É preciso comprovar a eficácia da psicoterapia para o paciente", afirma o austríaco Eric Kandel, com a autoridade de quem é psiquiatra e vencedor do Prêmio Nobel de Medicina/Fisiologia — ganhou, em 2000, por ter desvendado os mecanismos que permitem ao cérebro formar e armazenar memórias. "Na maioria dos casos, a psicoterapia não possui comprovação cientifica que mostre em quais circunstâncias ela funciona ou não."
Atualmente, aos 81 anos, é professor da Universidade de Columbia, em Nova York, e tornou-se um dos mais importantes pesquisadores do cérebro humano deste século, mesmo sendo um psiquiatra tardio. Estudou história e literatura e só mais tarde formou-se em psiquiatria e neurociência.

Kandel está no Brasil para participar do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que está sendo realizado no Rio de Janeiro. O objetivo é falar do papel das pesquisas para a descoberta de novas drogas para a esquizofrenia e ampliar o acesso ao tratamento da doença. Para o pesquisador, a ciência está progredindo de forma lenta para encontrar soluções não só para a esquizofrenia, como também para outras doenças mentais.
Na opinião de Kandel, faltam marcadores biológicos (provas dadas pelo próprio corpo do paciente, como a variação de hormônios, por exemplo) para definir estratégias de diagnóstico e tratamento das doenças mentais. Kandel afirma ser necessário reconhecer a importância dos medicamentos no tratamento dos problemas da mente e bate na tecla: "a psicanálise e outros tipos de terapia devem ter sua eficácia comprovada."

Durante a entrevista concedida para o site de VEJA, o pesquisador ainda chamou a atenção para a saúde mental das crianças. “Há um número surpreendente de crianças que estão deprimidas em idade escolar. É preciso prestar atenção a isso”, diz. Para ele, apesar da prescrição exagerada, o metilfenidato (medicamento para o TDAH —transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), deve ser indicado para crianças que necessitam dele, para evitar atrasos sérios no desenvolvimento de habilidades básicas.


Como o senhor avalia a situação atual da psicoterapia? A psicoterapia está passando por uma grande crise. Na maioria dos casos, a psicoterapia não possui comprovação cientifica que mostre em quais circunstâncias ela funciona ou não. A partir de estudos comparativos, Aaron Beck, da Universidade da Pensilvânia, conseguiu comprovar a eficácia da terapia-cognitivo comportamental. Atualmente, é o único tipo de terapia disponibilizada pelo governo britânico. Então, acho que a psicanálise e outros tipos de terapia devem seguir o mesmo caminho. Precisamos avaliar com mais cuidado a eficácia delas. Apesar disso, acredito que elas tenham um grande potencial e que são valiosas para o tratamento.

É crescente o número de pessoas diagnosticadas com depressão e outras doenças mentais. O senhor acredita que esteja havendo um diagnóstico exagerado? Acredito que é uma doença muito comum e extremamente assustadora. Todos os anos, entre 6% e 8% da população americana ficam incapacitados por causa da depressão. Então, eu não acredito que exista exagero nisso. Há um número surpreendente de crianças em idade escolar que estão deprimidas por causa do stress e que correm risco de cometer suicídio. Então, não dá para ignorar a existência dessa doença, particularmente porque ela pode vir de forma camuflada. Há, por outro lado, a prescrição ilimitada de drogas para a depressão.

O periódico British Medical Journal publicou um editorial sugerindo que os médicos são pouco treinados para determinar se uma droga é eficaz ou não. O que o senhor pensa a respeito? É verdade até certo ponto. Não há um médico que questione o uso das estatinas (medicamento que age no organismo reduzindo os níveis de LDL, conhecido como 'colesterol ruim') para tratar o colesterol, por exemplo. Porém sabemos que há ainda um grande número de psiquiatras que não reconhecem a importância da psicofarmacologia. O artigo toca em um ponto sensível. Ele serve para chamar a atenção dos especialistas para que aprendam sobre isso, para que possam pelo menos prescrever remédios para os casos em que isso seja necessário. Mas não acho que seja esse o ponto fundamental para o sucesso da psiquiatria.

O senhor falou sobre a preocupação com a depressão em crianças pequenas. Recentemente, a Academia Americana de Pediatria diminuiu a idade para o diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade para quatro anos. Existe exagero na prescrição do metilfenidato? Provavelmente é um medicamento prescrito além da conta. Mas é importante lembrar que as principais afetadas são as crianças que estão em idade escolar. Se elas estão na sala de aula e apresentam dificuldade para aprender a ler, é preciso observar. Se há um problema e você dá o medicamento, elas se tornam capazes de ler e aprendem as habilidades básicas. Caso contrário, elas não teriam capacidade de progredir na escola. Então, se utilizada com cuidado, é algo extremamente útil.

Qual é o maior desafio em relação às doenças mentais? É grave, há muita pobreza no mundo e muitas doenças mentais. Precisamos entender melhor a mente e as doenças que ocorrem nela. Acredito que houve um progresso muito lento no entendimento da esquizofrenia. Temos que fazer mais pesquisas e precisamos desenvolver marcadores biológicos para possibilitar diagnósticos e tratamentos melhores. Não estamos conseguindo isso de forma rápida o suficiente. Falta dinheiro a ser investido nessa área e também interesse em pesquisar esses problemas.


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