quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A psicóloga Marina Gusmão Caminha fala sobre trabalho com pais na clínica cognitiva infantil

                              Foto Priscilla Borges
 
                              Por Paula Tweedie

No dia 24 de novembro seu curso pré-jornada em Terapia Cognitivo-Comportamental em Novo Hamburgo será sobre o trabalho com pais na clínica cognitiva infantil. Como se dá esse trabalho com pais?
O trabalho clínico com pais é inerente quando se pensa em intervenções na clínica infantil. Na abordagem cognitivo-comportamental existem três modalidades de intervenções com pais: na primeira são meramente facilitadores, trazendo informações do funcionamento da criança e da família e pouco interagindo no tratamento da mesma. Na segunda os pais são co-clínicos, o que permite que eles estejam atuando junto ao terapeuta seguindo tarefas de casa, monitoramentos semanais e mesmo aplicando algumas intervenções guiadas pelo terapeuta. Na terceira modalidade os pais são os próprios clientes ou pacientes. Esse será o foco principal do curso que é destinado a psicólogos, terapeutas, psicopedagogos e psiquiatras. Nessa modalidade o profissional avalia o problema que a criança apresenta e quando percebe que é um problema de manejo dos pais, busca orientar esses pais para que eles possam modificar os seus padrões comportamentais e, assim, construir mudanças comportamentais nessas crianças buscando melhores resultados na interação familiar.

Os pais que não modificam seus padrões de funcionamento conseguem ver resultados nos seus filhos?
Os pais que buscam tratamento para seus filhos e não estão dispostos a repensarem suas condutas como pais acabam por tornar mais difícil a mediação do terapeuta. O tratamento com crianças envolve o que chamamos de uma prática sistêmica, ou seja, temos de compreender o comportamento que a criança vem apresentando dentro de um contexto mais amplo, não apenas a observação do comportamento infantil de modo isolado. Assim sendo é muito importante que os pais aprendam a se implicar no problema que a criança vem apresentando, tanto que nós terapeutas temos a prática de orientar os pais a dizerem para os filhos algo como: “nós estamos com um problema e por isso estamos procurando um terapeuta que é uma pessoa que poderá nos ajudar, iremos consultar com ele até que o nosso problema esteja solucionado”.
Em suma, pais que levam os filhos a um terapeuta não implicados naquilo que está ocorrendo com eles se tornam uma resistência maior para que o terapeuta consiga atingir suas metas terapêuticas.

A punição é importante no processo educativo infantil?
A tolerância a frustração é uma importante etapa do desenvolvimento para que as crianças consigam desenvolver saúde mental. A partir da capacidade de se frustrar desenvolvemos limites, desenvolvemos maior empatia e consequentemente maior fluxo social e reciprocidade nas relações.
Muitas vezes processos restritivos são operados através da punição. Não devemos confundir, entretanto, punição com bater na criança. Este tipo de punição deve estar fora de qualquer processo educativo pois algo que ela ajuda efetivamente a ensinar é o aumento do fluxo da violência interpessoal.
Falamos tecnicamente do que chamamos de punição positiva, ou seja, aquele tipo de punição que restringe algo a criança a partir de uma conduta inapropriada apresentada pela criança. Num processo terapêutico o terapeuta juntamente com os pais elabora um processo restritivo a criança conforme a sua realidade e de modo apropriado. Punição, mesmo a positiva, deve ser utilizada em doses bem baixas, caso contrário, aumentamos em demasia o processo aversivo no desenvolvimento da criança.

Sabemos que educação não é uma receita de bolo, mas o que poderiam ser dicas interessantes que auxiliassem os pais na interação com seus filhos?
Penso que uma dica importante é o elogio. Tenho certeza de que a maioria dos pais não tem noção do quanto o elogio ajuda a criança a desenvolver-se de modo sadio. Percebo muitos pais que acreditam ser desnecessário elogiar seus filhos, por exemplo, quando apresentam um bom desempenho escolar. A frase mais comum: “para que elogiá-lo nisso se justamente esse é o seu único compromisso?” A criança tem no olhar dos pais a referência do certo ou errado, e mais do que isso, a referência daquilo que seria importante acreditar ou mesmo investir. Pais devem elogiar seus filhos, não pelo fato de estarem bonitos ou simplesmente serem inteligentes, mas sim pelo esforço que fazem, pelo seu empenho nos estudos, pela sua criatividade em resolver problemas, pelo modo como tratam as pessoas, a natureza, os animais e pelos resultados que alcançam, de modo individual ou coletivo.
Além do elogio como reforço de um comportamento esperado, acredito que outra dica importante diz respeito ao tempo e ao tipo de interação entre pais e filhos. Brincar com os filhos é algo que tem um valor inestimável. Pode-se afirmar que pais que destinam um tempo diário para brincar com seus filhos e aproveitam esse tempo para elogiarem e reforçarem os comportamentos adequados no brincar são pais que ajudam seus filhos a priorizarem os relacionamentos, a entenderem regras e a fortalecerem os papéis e os vínculos familiares.

Com relação à jornada de terapias cognitivas que ocorrerá nos dias 24 e 25 de novembro no vale dos sinos. Qual o seu propósito?
É a primeira vez que promovemos um evento de terapia cognitiva que foge da capital e proporciona a pessoas de outras regiões a difusão de uma modalidade de terapia que é atualmente calcada em fortes bases científicas e é considerada nos dias de hoje uma estratégia terapêutica de primeira escolha para o tratamento de inúmeros transtornos mentais. No dia 24, quinta-feira, à noite haverá quatro cursos pré-jornada. Além desse aqui comentado, terá um curso ministrado por Renato Caminha sobre as principais ferramentas que temos desenvolvido (Baralho das Emoções e Baralho dos Pensamentos), as quais treinamos a equipe Australiana da Dr. Paula Barrett, que desenvolveu o Programa Friends e que estará utilizando essas ferramentas em seu Programa. Também haverá um curso sobre o Treinamento de Habilidades Sociais com a psicóloga Neiva Tein. E ainda, dentro de um tema muito debatido nas escolas e na própria clínica ultimamente, o assunto Bullying, dentro da perspectiva da prevenção e da intervenção, com Vinícius Dornelles. No dia 25 de novembro, renomados nomes da Terapia Cognitivo-Comportamental estarão discutindo assuntos em conferências e mesas com o foco principal nos Transtornos de Humor, de Ansiedade e Transtornos Alimentares. O encerramento da jornada será com o Dr. Luiz Carlos Prado que abordará o tema da infidelidade e do tratamento da terapia cognitivo-comportamental com foco nos casais.